A exposição Manual de Consciência: caligrafias sobre o Estado Novo é o resultado da residência artística de Carla Filipe em Viseu, a convite da VNBM, arte contemporânea.

Contrariando a sua normal prática artística cujo foco de investigação recai sobre a história da resistência e da revolução, a artista opta, como ponto de partida, pela análise do regime político ditatorial – Estado Novo – , que vigorou em Portugal, durante 41 anos consecutivos, para criar um conjunto composto por 15 elementos.

O seu estudo partiu da leitura de variadas bibliografias, como O estado Novo e os seus Vadios, contribuições para o estado das identidades marginais e a sua repressão, (1) de Susana Pereira Bastos, uma reflexão antropológica sobre o tema da construção das identidades desviantes, a partir da pesquisa sobre uma figura marginal complexa considerada um perigo para a identidade nacional; ou ainda Desigualdades, (2) de Maria Filomena Lopes de Barros e Ana Paula Gato, e ainda A Cada um o seu Lugar – a política feminina do Estado Novo, (3) de Irene Flunser Pimentel.

Para a contribuição destes estudos é de salientar o apoio de Anabela Silveira (4), contribuindo para esclarecimentos sobre a matéria do Estado Novo.

A caligrafia é dominante neste trabalho, apresentando um texto híbrido que recorre ao uso da cópia e da redação, criando assim este Manual de Consciência. Se o ato de escrever manualmente é um veículo para a assimilação e compreensão dos conteúdos, também proporciona erros de escrita que resultam da discrepância entre a velocidade da mão e do pensamento.

É também no exercício de repetição e de transcrição de textos que existe tempo e espaço para a reflexão sobre os seus conteúdos, prática que Carla Filipe convoca para a criação das suas peças-textos, que se interligam com a redação, a interpretação, a análise dos conteúdos suportados por diversos tipos de caligrafia.

O Manual de Consciência: caligrafias sobre o Estado Novo é um conjunto de 15+1 (poster) peças em que a artista recorre à técnica mista: colagem de recortes de imprensa da época, serigrafia de detalhes gráficos de revistas da década de 60/70 e tinta da China, focadas, essencialmente, no intuito de nos confrontar com o papel da mulher; a segregação social, a pobreza, a guerra colonial, a saúde e a habitação em Portugal.

(1) col. Portugal de Perto, Ed. D. Quixote,1997

(2) Biblioteca e Colóquios. Série e-books –nº21, Universidade de Évora, CIDEHUS, 2016

(3) ed. Temas e debates, 2011

(4) investigadora em História do Colonialismo e da Descolonização e em História de Mulheres

VNBM – Arte contemporânea e Carla Filipe agradecem o apoio à ADFA, a Anabela Silveira , ao arquivo Ephemera, a José Fernandes Carrilho e à Teresa Cordeiro.