Caminhar pelo distrito de Viseu teve uma importância seminal no desenvolvimento do meu trabalho e inspirou parte substancial da minha produção de desenho e de pintura. Andando por aqui fui aprendendo a ter um modo de ver.
 Por entre os campos fabricados, pelas matas, à beira do Vouga, ou nos montes, sempre me impressionou uma variedade única que se traduzia em sombras e luz, cores, linhas em movimento constante, escalas que iam desde a pequena erva à grande montanha. Como apreender tudo isto num acto de olhar? Como em cada desenho ou pintura crio uma relação? No fundo, como posso inventar?
Este é ainda o meu desafio.
Este lugar nunca me pediu que o reproduzisse, que o copiasse, que o retratasse, mas antes que tentasse inventar como ele inventa. Dando importância a tudo, desde o mais pequeno ao maior, descobrindo objectos que não têm nome e que num acto perceptivo conseguimos destacar desse fundo inexaurível. Ensinou-me que há muito mais para ver que aquilo para o qual temos palavras e números.
Não penso que seja outra a missão do pintor.
Nesta exposição tentei dar continuidade a esse apelo misturando a fluidez da aguarela com o corpo resistente da encáustica, num mesmo suporte. Revi desenhos, ideias e memórias que ao longo dos anos por aqui fui tendo. Decerto muito experimental, muito provavelmente para continuar e desenvolver.
Esta terra apela ao que é princípio e a principiar outra vez. Para mim ela é isso. Talvez caminhos?
                                       João Queiroz