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Exposição de fotografia de André Cepeda, resultado de uma residência de artista na cidade de Viseu, em colaboração com Miguel Abras e apresenta uma série de fotografias inéditas. A ruína, o abismo, a vertigem, o corpo e o existencialismo, em ressonância com a sobrevivência são os temas que abordam. Esses assuntos confirmam-se na sombra do esquecimento que ao dialogarem, ressoam permanentemente em espaços silenciosos onde se questiona a importância da história. O retrato ao ser condenado a uma interferência, condensa a integralidade da figura. Enquanto André Cepeda fotografava, Miguel Abras escrevia e entrevistava várias pessoas da cidade com o objectivo de criar um texto experimental.
TEMPESTADE
A conquista depois da tempestade
Como se a causa se destruísse numa manhã de nevoeiro
tudo começou com uma imagem
uma paisagem
depois
as pessoas
na ruína das minhas decisões
identificas-te com a queda
o abismo
é preciso ter medo das alturas
o precipício suga
a vertigem puxa
há prazer nisto ou é apenas uma fuga
se continuar a cair como é que afundo
cair caí
há fundo
Ressonância
utopia banalizada
tentar separar a vida da existência
obrigação de um campo realista
estar cá como forma de ausência
onde é que a foste buscar
Ressonância
Ficamos por aqui
pela curiosidade de materializar mais do que no próprio corpo
esperança numa intervenção pacifista, novos rumos de velhos rumores.
A contra-dança do tempo
as palavras não me interessam
já não acredito
não acredito
falas e eu não sinto nada
Ressonância
a conquista não me cega mais
a ecoar na mudez, nesse vazio
e eu vi
a morte já lá estava
a satisfazer um fim – intemporal – antes do Fim
agora sei que esta é a minha história
que construi sem saber nada
onde é que esta a força para me erguer dela
é um lugar pobre
não é ficção
haja alguma coisa que dignifique
Alimentarmo-nos dos restos
de existencialismo
que confirma o ser
retornar ao lugar
à imagem
O presente confirma-se em silêncios
ao dialogarem
ressoam permanentemente
Despindo-os lentamente da memória
Tirando-a calmamente da infraestrutura
Temo que nunca fui
jamais serei nada
Tiques que se tornaram colossais, algemas
Ressonância
a matéria realiza-se
ver confirma
nada vi
ocultar o que era insignificante
nada como ser
desapegar-me da significância
Esquecer é o que mais quero
Esquecer tudo e começar de novo
Essa força não sei se a tenho
Ressonância
A sombra do esquecimento
condena a uma interferência
O lugar não tem história
e a integralidade da figura
condensa-se num olhar
Condenar é uma síndrome da abjeção
à qual me condeno
Leves vivências sem importância
acalmia no desertificar
Ressonância
“Agora compreendi:
as coisas são inteiramente o que parecem – e por trás delas…
não há nada”.
O lugar não tem referências
espíritos daninhos e soltos
Portais que nos embalam
Embalsamados pela profecia do erro
Acordar inquieto
sonhando com uma fuga
Ressonância
André Cepeda e Miguel Abras
Viseu, 2022